quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Saber Sofrer

Na extensa fila de recém-desencarnados, à espera de uma definição quanto ao seu futuro, dois Espíritos conversavam sobre suas experiências.

-Fui casado, deixei esposa e dois filhos.

-Interessante, eu também.
-Tive câncer no estômago.
-É muita coincidência. Foi o mal que me matou.
-Então sabe como é sofrido esse final de existência.
-Nem me fale!
-Lutei por três anos contra a doença, submetendo-me a tratamentos diversos.
-Sei bem o que é isso. Também penei por três anos.
-Desencarnei relativamente novo, com apenas 63 anos.
-Parece brincadeira! É o cúmulo da coincidência, porquanto também estou retornando nessa idade.
-Incrível! Duas biografias idênticas!
-Verdade. Não sei para onde vamos, mas certamente estagiaremos, no mesmo lugar, que há de ser bom. Jesus ensinava que os sofredores estão destinados ao céu.
-Deus o ouça!
A fila andou. Viram-se os gêmeos nas dores, diante de São Pedro, na portaria do Além.
Após examinar detidamente a ficha do primeiro, o porteiro celeste o convidou a tomar o elevador sideral e subir para o Céu.
O segundo, animado, preparou-se para idêntico destino.
Para sua surpresa o santo determinou:
-O elevador irá para baixo, levando-o ao purgatório.
O condenado logo reclamou:
-Creio haver um engano. Meu companheiro tem ficha absolutamente idêntica à minha. Sofreu o mesmo que eu e foi para o Céu.
São Pedro, imperturbável informou:
-Sim, mas há um detalhe. Ele nunca reclamou.

Esta pequena alegoria ilustra a afirmativa do Espírito Lacordaire, no cap. V, item 18, de O Evangelho segundo o Espiritismo:

“Quando Cristo disse: “Bem-aventurados os aflitos, porque deles é o Reino dos Céus”, não se referia aos sofredores em geral, porque todos os que estão neste mundo sofrem, quer estejam num trono ou na miséria, mas ah!, poucos sofrem bem, poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzir ao Reino de Deus...” 

O mentor espiritual está dizendo com todas as letras que não basta sofrer para habilitar-se a futuro feliz. É preciso sofrer com “finesse”, sem murmúrios, sem queixas, sem revolta nem desespero. Imaginemos o paciente revoltado, neurótico, conturbando o relacionamento familiar, criando confusão, e teremos uma idéia sobre o assunto. Não está resgatando dívidas. Apenas as amplia, infernizando os familiares. Há enfermidades que guardam função de “depurativos da alma”, servem de válvulas de escoamento de impurezas espirituais. Põem para fora os desajustes que provocamos com comprometimentos morais em existências anteriores. Para que nos recuperemos sem delongas, é fundamental evitarmos sentimentos negativos, expressões de revolta e inconformação, que recrudesce o mal sem reduzir o desajuste. Geram dores que não redimem. Apenas prolongam nossos padecimentos. 

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