domingo, 21 de fevereiro de 2016

O homem psicológico maduro

(UM PEQUENO ESTUDO)

  O ser humano é o mais alto e nobre investimento da vida, momento grandioso do processo evolutivo que, para atingir a sua culminância, atravessa diferentes fases que lhe permitem a estruturação psicológico, seu amadurecimento, sua individuação, conforme Jung.

 Ao atingir a idade adulta deve estar em condições de viver as suas responsabilidades e os desafios existenciais. É comum, no entanto, perceber-se que o desenvolvimento fisiológico raramente faz-se acompanhar do seu correspondente emocional, o que se transforma em conflito, quando um aspecto não é identificado com o outro. Em tal caso, o período infantil alonga-se e predomina, fazendo-se característica de uma personalidade instável, atormentada, insegura, depressiva ou agressiva, ocultando-se sob vários mecanismos perturbadores.


 O seu processo de amadurecimento psicológico, portanto, pode ser comparado a uma larga gestação, cujo parto doloroso propicia especial plenificação.


 Procedente de atavismos agressivos, imantado ainda aos instintos, o ser cresce sob pressões que lhe despertam a necessidade de desabrochar os valores adormecidos, qual semente que se intumesce sob as cargas esmagadoras do solo, a fim de libertar o vegetal embrionário, que se agigantará através do tempo.


 Fatores compressivos e difíceis de liberados, pelos processos castradores do ambiente, quase sempre contribuem para que se prolongue a sua imaturidade psicológica.


 Do ponto de vista tradicional, apresentam-se os fatores hereditários, psicossociais, econômicos, que colaboram positiva ou negativamente para o desenvolvimento psicológico, quase sempre contribuindo para a preservação do estado de imaturidade.


 Graças à sua constituição emocional e orgânica, na vida infantil o ser é egocêntrico, qual animal que não discerne, acreditando que tudo gira em torno do seu universo, tornando-se, em conseqüência, impiedoso, por ser destituído de afetividade ainda não desenvolvida, que o propele à liberdade excessiva e aos estados caprichosos de comportamento.


 Passado esse primeiro período, faz-se ególatra, acumulando tudo e apenas pensando em si, em fatigante esforço de completar-se, isolando-se socialmente dos demais ou considerando as outras pessoas como descartáveis, cujo valor acaba quando desaparece a utilidade, de imediato ignorando-as, desprezando-as...


 Em sucessão, apresenta-se introvertido, egoísta, possuindo sem repartir, detentor de coisas, não de paz pessoal.


 A imaturidade expressa-se através da preservação dos conflitos, graças aos quais muda de comportamento sem liberar-se da injunção causal, que são a frustração, o desconforto moral, a presença da infância. E mesmo quando se apresenta completado, as suas reações prosseguem infantis, destituídas de sensibilidade, no tormento de metas sem significado.


 Para ele, o sentido da vida permanece adstrito ao círculo estreito da aquisição de coisas e à sujeição de outras pessoas aos seus caprichos. Torna-se ditador impiedoso, sicário implacável, juiz cruel.

 
Proporciona-lhe prazer mórbido a dependência das massas e dos indivíduos particularmente, fruindo,
de maneira masoquista, do prazer na dor própria ou alheia, desenvolvendo a degenerescência afetiva até o naufrágio fatal...


 Certamente, fatores genéticos contribuem para o desenvolvimento ou não da maturidade psicológica, em se considerando as cargas hereditárias na constituição orgânica, na câmara cerebral, na aparelhagem nervosa e glandular, especialmente nas de secreção endócrina, na constituição do sexo.


 Todavia, não podemos ignorar a preponderância do modelo organizador biológico (MOB) ou perispírito, responsável pela harmonização dos implementos de que o Espírito se irá utilizar para o seu processo evolutivo no corpo transitório.


 Face a isso, cada pessoa é a soma das suas experiências transatas, e sua mente é o veículo formador de quanto se lhe torna necessário para o processo iluminativo.


 Essa percepção, o entendimento desse fator, faz-se relevante em qualquer proposta de psicologia trans-pessoal, no estudo das causalidades de todos os fenômenos humanos.


 Os velhos paradigmas e modelos sobre o homem cedem passo à introdução do conceito do ser ancestral, com toda a historiografia das suas reencarnações, que se tornam responsáveis pelo desenvolvimento do eu profundo.


 A enunciada cisão entre o eu e o si, atávica, desaparece quando a análise do perispírito demonstra que a personalidade resulta da experiência de cada etapa, mas a individualidade é a soma de todas as realizações nas sucessivas reencarnações.


 Graças a esses fenômenos, as pressões psicossociais — ambiente, educação, lutas e atividades — aparecem contribuindo, de uma ou de outra forma, para a realização das metas ou reparação delas, em razão dos processos de mérito ou débito de que cada um se faz portador.


 Todos nascem ou renascem nos núcleos familiares e sociais de que necessitam para aprimorar-se, e não conforme se assevera tradicionalmente: que merecem.


 As cargas de genes e cromossomas, as condições psicos sociais e econômicas, formam o quadro dos processos de burilamento moral-espiritual, resultantes da reencarnação caldeadora dos dispositivos individuais para a evolução.


 Tal razão prepondera na elucidação das diferenças psicológicas dos indivíduos, mesmo entre os gêmeos uniovulados, defluentes das conquistas anteriores.


 A maturidade psicológica tem um curso acidentado, feito de sucessos e repetições, por formar um quadro muito complexo na individualidade humana.


 A sua primeira fase expressa-se como maturidade afetiva, quando o se deixa de ser captativo por fenômeno atávico, para tornar-se ablativo, que é a fatalidade do processo no qual se encontra.


 Da posição receptiva egoísta, profundamente perturbadora, surge a necessidade de crescer e ampliar o círculo de amigos, na sua condição de animal gregário, surgindo as primeiras expressões do amor.


 Expande o sentimento afetivo e compreende que o narcisismo e o egoísmo somente conduzem à auto-destruição, à perturbação.


 O amor é a chama que arde atraente, oferecendo claridade e calor, ao tempo que alimenta com paz, face à permuta de energias entre quem ama e aquele que se torna amado.


 Desenvolve-se então uma empatia que arranca o ser do seu primitivismo, conduzindo-o à imensa área do progresso, onde a experiência de doação torna-se enriquecedora, trabalhando pelo olvido do ser em si mesmo com a lembrança constante do seu próximo.


 Quem aspira por ser amado mantém-se na imaturidade, na dependência psicológica infantil, coercitiva, ególatra.


 A afetividade é o campo central para a batalha entre as diversas paixões de posse e de renúncia, de domínio e abnegação, ensejando a predominância da doação plena.


 No amadurecimento afetivo, o ser esplende e supera-se.


 O próximo passo é o amadurecimento mental, graças à compreensão de que a vida é rica de significados e o seu sentido é a imortalidade.


 Com essa identificação alteram-se os interesses, e as paisagens se clareiam ao sol da razão, que consubstancia a fé no homem, na vida e em Deus.


 O amadurecimento mental, que se adquire pela emoção e pelo conhecimento que discerne os valores constitutivos da filosofia existencial, amplia as perspectivas da realização completadora.


 Somente após lograr o amadurecimento afetivo, consegue o mental, por encontrar-se livre dos constrangimentos e das pseudo necessidades emocionais.


 A conquista da razão é relevante, por ser o princípio ordenador, responsável pela formação do discernimento, que reúne em um só conjunto as diferentes conquistas intelectuais, a fim de que possa utilizar o pensamento de maneira justa, real e compatível com a consciência.


 A razão proporciona a superação do fenômeno infantil da ilusão, da fantasia, responsável pelo sofrimento, em se considerando a impermanência e todos os acontecimentos e aspirações físicas.


 A mente, no seu contexto e complexidade, resulta de duas expressões da sua natureza:

 o intelecto e a razão, sendo a segunda de formação discursiva e a primeira de caráter intuitivo.

 Disso decorrem duas condutas de aprendizagem no que tange ao pensamento e ao seu uso correto.


 Pensar acertadamente é uma meta elevada, porque nem todo ato de pensar corretamente o é, face à interferência dos desejos e supostas necessidades. Assim, a concentração nos objetivos ideais, distinguidos dos imaginados, leva à correção do pensamento.


 Há uma grande variação de níveis de pensamento, resultantes das conquistas intelectuais.


 Para que ocorra o amadurecimento se torna indispensável pensar, exercitando a mente e ampliando-lhe a capacidade de discernir.


 Logo se apresenta o desafio do amadurecimento moral, responsável pela superação dos instintos, das sensações grosseiras, imediatistas.


 A escala dos valores rompe os limites das conveniências restritivas e interesseiras, para apoiar-se nos códigos da ética universal, ancestral e perene, que têm, por base, Deus, os seres, a natureza e o próprio indivíduo, compreendendo-se que o limite da própria liberdade começa na fronteira do direito alheio, nunca aspirando para si o que não gostaria de receber de outrem...


 A maturidade moral liberta, por despedaçar os códigos da hipocrisia e das circunstâncias que facultam o desenvolvimento do egoísmo, da vaidade, da autocracia.


 Essa realização moral é dinâmica e entusiasta, alargando as possibilidades de crescimento ético, estético e espiritual do ser.


 Dois sensos morais surgem no contexto da maturação:

 o convencional — que é o aceito, oportunista e, às vezes, amoral ou imoral, — porque imposto
pelas conveniências de cada época, civilização e cultura —

e o verdadeiro — que supera os limites ocasionais e sobrepaira legítimo em todas as épocas,
qual aquele estatuído no Decálogo e no Sermão da montanha.


 A conquista da maturidade moral verdadeira torna-se indispensável para a auto-realização do ser e da sociedade em geral.


 Vencida essa etapa, a maturidade social surge naturalmente, porque, autoconhecendo-se e autotrabalhando-se, o homem psicológico torna-se harmônico no grupo, é aglutinador, compreensivo, líder natural, proporcionando bem-estar em sua volta e alegria de viver.


 O amadurecimento psicológico é imperativo que surge naturalmente, ou por necessidade que se estabelece no processo da evolução.


 O ser imaturo, ambicioso, apaixonado, frustra-se, irrita-se sempre, mata e mata-se, porque o significado da sua vida é o ego perturbador e finito, circular estreito e sem metas.


 Superar o estado egocêntrico, para tornar-se útil socialmente, caracteriza o rompimento com o círculo familiar da infância e abre-o à comunidade, que é a grande escola da vida.


 O indivíduo não pode viver sem relacionamentos, pois que, por contrário, aliena-se.


 O seu desenvolvimento deflui dos contatos com a natureza e as criaturas, dos seus inter-relacionamentos pessoais, renunciando à liberdade interior, a fim de plenificar-se no grupo.


 Com o conflito embutido no comportamento pessoal, torna-se impossível o relacionamento social.


 Indispensável que sejam realizados encontros e experiências de grupos, gerando adaptação e convivência salutar com outras pessoas.

 Quem lograr a sua consciência individual, supera a violência, a separatividade e, afetuoso, racional, integra o grupo social promovendo-o e desenvolvendo-se cada vez mais, rico de compreensão, fraternidade, amor e paz.


 O homem maduro psicologicamente vive a amplidão infinita das aspirações do bom, do belo, do verdadeiro, e, esvaído do ego, atinge o self, tornando-se homem integral, ideal, no rumo do infinito.


O SER CONSCIENTE
DIVALDO PEREIRA FRANCO
DITADO PELO ESPÍRITO JOANNA DE ÂNGELIS

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