quarta-feira, 29 de junho de 2016

A LEI DO RETORNO

Dada a premissa colocada por nós, o fenômeno tende a concluir-se segundo a direção que lhe foi dada no início. Agora como prever em unidades de tempo a velocidade com que o fenômeno chega a sua conclusão na fase dos efeitos. Nem todos os casos são simples, derivados de uma conduta exclusivamente positiva ou negativa. O decurso do fenômeno é tanto mais linear e a solução tanto mais rápida e fácil, quanto mais decisivamente prevalecer uma das duas características, seja de positividade ou de negatividade.(...)

As complicações e os atrasos da conclusão verificam-se quando o caso é composto de qualidades positivas e negativas ao mesmo tempo, porque então elas resultam contrastantes e divergentes. Nessas condições, o desenvolvimento do fenômeno prolonga-se até quando se estabelece uma prevalência de forças e suas direções em um dado sentido. Assim é necessário esperar que se esgote o impulso das forças do tipo que está em percentagem menor, porque só então o tipo oposto pode se afirmar e vencer, prevalecendo em uma só direção. Nesse ínterim pode-se conseguir resultados temporários, com expectativa ainda não definida, porque foram determinados por impulsos positivos e negativos não delineados. 

Estes são casos mais complicados, nos quais é mais difícil ver o funcionamento da Lei. Mas comecemos com a descrição de um tipo de caso simples, de modelo monocromático no negativo, com resultado rápido e evidente, pela presença exclusiva de forças de uma dada qualidade. (...) Em nossas experiências no laboratório da vida pudemos assistir à operação cirúrgica da punição por falta de retidão, isto é, à solução de um caso de negatividade.
A operação impressionou-nos pelas seguintes qualidades:

1) a exatidão com a qual o efeito correspondeu à causa, conservando-se do mesmo tipo de forças postas em ação, mas retornando ao emitente em vez de atingir o indivíduo ao qual elas se destinavam; 

2) a exatidão com a qual foi centralizado o escopo, sem atingir quem quer que estivesse próximo do alvo;

3) a rapidez do desenvolvimento e conclusão do fenômeno; 

4) a convergência dos impulsos em direção àquele resultado final; 

5) a massa dos resultados obtidos, em proporção aos mínimos meios usados, isto é, o rendimento com eles obtido durante o trabalho realizado.
 
Perante tal espetáculo tem-se a sensação de ver a face da Lei e não se pode conter, ao fim da experiência, um grito de maravilha, quando se observa o seu perfeito funcionamento. Não se trata de sonhos. Qualquer pessoa pode verificar a existência de um caso semelhante a esse, controlando as suas conclusões. Mas, tudo isso corresponde a uma lógica, que nos autoriza a admiti-la, mesmo porque, confirmando a nossa tese, existe a visão da unidade fundamental da Lei.

Observemos agora um outro caso, que podemos chamar policromático, pelo qual fica diminuída a velocidade do fenômeno, quando chega à sua conclusão. Tratemo-lo com a precisa razão.
Tudo depende das forças existentes no campo em que o caso se desenvolve. Eis o indivíduo que age em sentido negativo para obter vantagem em prejuízo de um terceiro. Isso é contra a Lei. Esta negatividade e o dano correspondente deveriam agora recair sobre o promotor, com isso resolvendo o que é um simples caso de falta de retidão, como o precedente. Mas, ao contrario, esse homem continua sem ser perturbado em sua violação. A sanção de sua culpa permanece suspensa. Por quê? Aqui o caso se complica, porque as forças postas em movimento por ele, estão no mesmo campo e combinam-se com as forças movidas pelo ofendido, o qual se encontra em fase de pagamento de seu débito para com a Lei e, portanto, necessitado de experiência corretiva do seu erro passado.

Eis então que a ação punitiva da Lei contra o opressor por causa do mal praticado, é freada pelo bem que ele faz, tornando-se útil ao executar, segundo a Lei, a função de seu instrumento na imposição de uma lição corretiva ao oprimido. Eis aí o impulso positivo em favor do opressor, positivo momentaneamente, porque se interrompe o impulso negativo contra ele, pelo mal que fez. Combinam-se assim dois valores opostos: a injustiça por parte do opressor (negatividade — anti-Lei) e a justiça por parte do oprimido que paga seu débito (positividade segundo a Lei). É assim que o primeiro, que faz sofrer o segundo, pode continuar a fazer o mal, não obstante seja justo que ele passe dessa posição àquela do próprio pagamento, o  que de fato acontecerá mais tarde.

É assim que, apenas cumprida a função de instrumento punitivo segundo a Lei, o fenômeno chegará também para o opressor à fase de pagamento, pela qual também ele o efetuará, sofrendo a lição corretiva que o espera. É natural que, quando a opressão feita por esse homem tenha purificado e redimido o seu oprimido de toda a negatividade que o agravava, então o opressor seja abandonado a seu destino porque a sua missão foi cumprida. Naquele momento não há mais razão para que a Lei espere, passando a exigir o seu pagamento. Finda a fácil vitória do mal, cai a ilusão de ter sabido evadir-se, sem prestar contas, às sanções da Lei.
Pode-se assim encontrar muitos casos, mas sempre em função do mesmo princípio básico que se aplica em posições diversas. Assim é que, uma vez compreendida a técnica de seu funcionamento, cada um poderá traçar-lhe o esquema até a sua conclusão final.

É necessário, porém, ter em conta que na realidade não encontramos casos isolados, mas uma concatenação de casos, pelo que os efeitos de um se encravam nas causas de outro, com fios entrelaçados que afundam suas raízes no passado. Isso porque, em vez de pagar e liquidar o débito, procura-se evadir dele, criando-se assim novos débitos. Assim a semeadura de causas negativas não termina nunca e o fardo imenso que pesa sobre a humanidade não se esgota, fardo de dores, tornado seu patrimônio natural e constante.

Como esta técnica podemos conhecer qual será o nosso futuro, observando que forças pusemos em movimento, construindo o nosso destino. É necessário ter compreendido que a natureza dos efeitos é do mesmo tipo das causas que pusemos em movimento, como determinante delas.  Estas conservam suas qualidades positivas ou negativas de que foram saturadas ao nascerem. Eis então que, quando as causas que lançamos, visando ao que nos é útil, eram contra a Lei, elas se voltam contra nós em posição invertida, em prejuízo nosso. E quando elas eram segundo a Lei, se voltam a nosso favor. Existe essa lei de retorno, em forma negativa, daquilo que lançamos negativamente, e em forma positiva, daquilo que lançamos positivamente. Eis então a que resultados leva o querer ser astuto para fraudar a Lei em nossa vantagem.

A Lei é como um espelho. Ela em si mesma é invisível como este, que por si permanece vazio e nele nada se vê senão uma imagem refletida. Mas tão logo nos colocamos frente a ele, eis que nos reflete como somos, restituindo-nos a nossa figura igual ao modelo, com as suas qualidades, mas em posição invertida de retorno.

Estejamos atentos, portanto, para cada nossa ação, porque as nossas obras nos seguem e recaem sobre nós. É necessário compreender que o mundo em substância é regido por um princípio de ordem e que o segredo do verdadeiro sucesso não está em tentar modificá-lo em vantagem nossa, mas em segui-lo, enquadrando-se nele. O caos está somente no exterior, na superfície e, não obstante a nossa resistência, ele é sempre corrigido e recolocado na ordem da Lei, que é a força íntima que tudo dirige. Assim, o querer ser forte para impor-se não serve senão para lançar sobre nós a reação da Lei que não admite ser violada.

O fenômeno de retorno tem maturação mais ou menos rápida segundo o seu volume e a simplicidade de sua estrutura. Quando as causas são poucas e lineares e se trata de um só indivíduo, chega-se logo à conclusão; mas quando se trata de muitas causas conexas e complexas como de nações e de povos, a conclusão é mais laboriosa e lenta.

É necessário compreender que cada defeito é uma dissonância que se afasta da Lei, é um ponto débil perante ela, é um erro, portanto, a ser corrigido, e que por isso volta-se sobre nós em forma de débito a ser pago. A causa de tudo isso somos nós, porquanto nos colocamos em posição de desordem dentro da ordem, assim lançando-nos, em nosso prejuízo, contra ela.  Ora, se não sabemos nos enquadrar, a Lei, em vez de uma casa, será para nós uma prisão. Todavia a Lei é uma casa cômoda para se morar, mas nós não sabemos nos mover dentro dela, porque somos feitos de desordem. O sofrimento que se segue quando nos lançamos contra as paredes serve para ensinar-nos a viver na ordem e assim transformar o cárcere em uma ótima casa.

O homem invoca a liberdade. Mas qual? A liberdade da desordem, isto é, aquela que o leva a bater contra as paredes da Lei. Buscando tal liberdade, o homem lança as causas de uma autopunição corretiva que terminarão por força-lo a enquadrar-se dentro da ordem. Nas revoluções aflora sempre a escumalha, que mais deseja liberdade, com lutas e destruições  Diz-se então que as revoluções devoram seus filhos. Por quê? Porque este é o efeito que lhes recai em cima, imposto pela causa por eles mesmos posta em movimento, que é do mesmo tipo, pela qual, tendo ele matado, são agora mortos.

Trata-se de uma restituição a eles do mesmo impulso, posto em movimento por eles mesmos. Dadas estas leis, não deveriam tremer aqueles jovens que hoje vemos entregar-se aos vícios, ao ócio, aos estupefacientes etc., se compreendessem de que efeitos estão semeando as causas. É certo que nas revoluções quer-se também os destruidores. Mas que fim têm eles? Executada sua função a Lei os destrói e deixa vencer os construtores que lhe servem para avançar. O que é negativo não tem direito à vida e portanto são logo mortos.

Eis que cada um pode estabelecer uma contabilidade própria de débito e crédito em conta corrente pessoal, posta perante a justiça da Lei. Esses débitos e créditos não são constituídos de valores econômicos, mas de valores morais. Estes são superiores e de mais vasta capacidade do que os materiais, que, frente aos outros, encontram-se em posição subordinada. Pode assim ser paupérrimo o mais rico e poderoso homem da Terra que tem débitos a pagar para com a Lei. E ao contrário  Essa contabilidade é a que realmente vale, aquela que está na base da vida, a que decide por esta, porque não permanece limitada no campo dos bens e dinheiro, mas abarca todas as expressões da vida, como saúde, afetos, felicidade ou dores em cada um de seus aspectos. O bem ou mal que recai sobre nós dependem da dose de positividade ou negatividade que colocamos nas contas, com nossos atos.

Livro - Pensamentos cap 1 Pietro Ubaldi




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