domingo, 17 de setembro de 2017

“Por que a Guerra?”: Algumas Considerações de Einstein e Freud



Em toda a história da humanidade a guerra sempre foi um fator desencadeador de inúmeros temores. Nas últimas décadas, as tensões relacionadas às guerras aumentaram consideravelmente, graças ao grande avanço da tecnologia que, inevitavelmente, a partir da Segunda Guerra Mundial, veio a ser usada na produção de armas de destruição em massa. Recentemente, além dos constantes conflitos no Oriente Médio, o mundo todo pôde sentir as tensões entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, com ambos os lados demonstrando seu poderio bélico, e sempre trocando ameaças e advertências.
Dentro desse contexto, é comum que em algum momento a gente se pergunte o “por que” das guerras e conflitos, ou “o que” leva o homem a ser o causador de tantas mortes e destruição, o que o impulsiona a praticar tamanhas barbáries e atos desumanos. Quando nos deparamos com as consequências da guerra, com o resultado final da atrocidade e violência do homem, é praticamente inevitável nos perguntarmos “o que” leva o homem a praticar tal destruição, e se existem meios para acabar com as guerras.

Tal questionamento foi discutido entre o físico Albert Einstein, e o pai da psicanálise, Sigmund Freud, em duas cartas, escritas em 1932, em que eles conversam sobre o tema “Por que a Guerra?“, cartas que se encontram no livro Novas Conferências Introdutórias Sobre Psicanálise e Outros Trabalhos. Tal troca de correspondência foi promovida pelo Instituto Internacional para a Cooperação Intelectual, depois de uma instrução dada, em 1931, pelo Comitê Permanente para a Literatura e as Artes da Liga das Nações. As cartas deveriam ser “a respeito de assuntos destinados a servir aos interesses comuns à Liga das Nações e à Vida Intelectual”. Além de falarem sobre os motivos que levam à guerra, os dois também propõe e discutem soluções para fim da existência das mesmas.

Neste artigo, será analisada a carta de Einstein, sendo a de Freud, analisada em uma segunda parte.

Segundo o que diz Einstein em sua carta, sua escolha por Freud, para que trocassem essa correspondência, se deu para que Freud proporcionasse “a elucidação do problema (guerra) mediante o auxílio de seu profundo conhecimento da vida institiva do homem“. Em sua carta, Einstein nos diz o que ele acreditava ser os motivos que levavam os homens à guerra, para que, em sua resposta, Freud aprofundasse a discussão sobre os motivos para tal ação humana, de acordo com seus estudos e conhecimentos acerca da natureza do ser humano.

Albert Einstein, no início de sua carta à Freud, diz que o assunto por ele escolhido como tema de sua correspondência parecia ser, para ele, “o mais urgente de todos os problemas que a civilização tem de enfrentar. Este é o problema: Existe alguma forma de livrar a humanidade da ameaça de guerra?” Einstein nos diz que, como forma simples de abordar o aspecto superficial do problema, deveria ser instituído, por meio de acordo internacional, um organismo legislativo e judiciário para arbitrar os conflitos surgidos entre as nações, e que cada nação deveria se submeter à obediência às ordens dadas por esse organismo legislativo, aceitar irrestritamente suas decisões e colocar em prática todas as medidas que o tribunal considerasse necessárias para a execução de seus decretos. Ele nos apresenta então, o fato de que um tribunal é uma instituição humana que “em relação ao poder de que dispõe, é inadequada para fazer cumprir seus veredictos, está muito sujeito a ver suas decisões anuladas por expressões extrajudiciais“, sendo isso uma dificuldade para a efetividade de tal organismo. Einstein ainda argumenta que a busca pela segurança internacional, e o fim das guerras, envolve a renúncia incondicional, de todas as nações, à sua liberdade de ação, e à sua soberania, tendo suas ações limitadas.

Einstein nos diz que parece haver “fatores psicológicos de peso“, que impedem qualquer esforço para alcançar tal renúncia e, consequentemente, o fim das guerras. Como um desses fatores psicológicos, ele nos apresenta o “intenso desejo de poder“, que a classe governante das nações nutrem, e que esse desejo não tem limites.

Einstein se questiona como que a minoria dominante consegue fazer com que a maioria, a massa, sofra com uma situação de guerra, a serviço da ambição de poucos. Além da utilização de meios de dominação usados pela minoria dominante para dobrar a vontade da maioria, como as escolas, a imprensa e, até mesmo, a igreja, Einstein chega à uma outra ideia que, segundo ele, influencia na adesão das massas a guerra, a ponto de se sacrificarem pela minoria. Segundo seu argumento, o homem encerra dentro de si um desejo de ódio e destruição. “Em tempos normais, essa paixão existe em estado latente, emerge apenas em circunstâncias anormais; é, contudo, relativamente fácil despertá-la e levá-la à potência de psicose coletiva“. Segundo ele, esse extinto agressivo do homem também opera sob outras formas e em outras circunstâncias.

Segundo o que Einstein nos apresenta, e o que a história nos ensina, a ambição humana, o desejo de se impor sobre o outro, a busca incansável pelo poder a qualquer custo, a falta de amor e respeito ao semelhante, movidos por um instinto de destruição e ódio, são alguns fatores que levam os homens à guerra, e que, para evitar tais consequências, os homens, as nações, devem buscar fazer aquilo que para muitos parece ser quase impossível; obedecer as leis, e abrir mão de sua potência, de sua liberdade de agir independentemente de leis, abrir mão de sua soberania, ou seja, controlar, mesmo que por força de lei, seus instintos e desejos mais egoístas e destrutivos.

As leis sempre foram um meio de limitar a potência de alguns para proteger os direitos de outros mais fracos, mas, como na dificuldade encontrada pelo próprio Einstein, o tribunal é formado de homens, e que esses sempre tendem a ser influenciados por questões extrajudiciais, e o próprio desejo poder, também se encontra aqui como um grande fator de influência.

Para viver em unidade, seja nas relações na comunidade local, em âmbito nacional, ou internacional, o outro sempre deverá ser levado em consideração e ser respeitado. Quando uma pessoa, nação, ou nações, passam por cima de todas as leis e considerações ao próximo para impor suas próprias vontades, conflitos e guerras serão sempre inevitáveis.

Wanderson Reginaldo Monteiro
– Vencedor do Prêmio “Marilene Godinho” de Literatura 2016 (Conto) e 2017 (Crônica)
(São Sebastião do Anta – MG)
 Texto obtido na internet.

Agradecimento ao mentor do curso de Filosofia Espírita - IFEVALE - Estevão Pereira

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