domingo, 5 de novembro de 2017

O Deus Monista de Jesus

A concepção que Jesus tem de Deus não é politeísta, como a dos greco-romanos pagãos, nem é monoteísta, como a dos judeus e cristãos, nem mesmo panteísta, como a ideologia de alguns orientais — a concepção de Jesus é tipicamente monista.

As religiões politeístas adoram diversos deuses, todos eles transcendentes ou separados do mundo; a religião monoteísta adora um só Deus, também transcendente ou separado do mundo.
Tanto os politeístas como os monoteístas estabelecem total dualidade entre Deus (deuses) e o mundo. O panteísmo, por seu turno, identifica Deus com o mundo, ou com a soma total das creaturas.

Se os dualistas afirmam unilateralmente a transcendência sem a imanência de Deus, os panteístas pecam pelo extremo oposto, afirmando unilateralmente a imanência (ou identidade) e negando a transcendência (ou alteridade) entre Deus e o mundo.

Se os dualistas pecam por separatismo, o panteísta peca por identificação.

Tendo Jesus vivido no meio do Império Romano politeísta-dualista, e tendo nascido do povo judaico monoteísta-dualista, era de esperar que a sua concepção de Deus fosse de colorido dualista, politeísta ou monoteísta.

Entretanto, a noção que o Nazareno tem de Deus não é a dos romanos, nem a dos judeus; por outro lado, ele também não é panteísta, como certos orientais.

A noção que o Nazareno tem de Deus é equidistante do separatismo judaico-romano e da identificação do panteísmo oriental.
A noção do Nazareno é tipicamente monista; para ele, "Eu e o Pai somos um, o Pai está em mim e eu estou no Pai — mas o Pai é maior do que eu."
E, olhando para outros homens, ele acrescenta: "O Pai também está em vós, e vós estais no Pai."
E chega ao ponto de dizer: "Vós sois deuses", não no sentido politeísta, mas no sentido monista; isto é: a essência da Divindade está em vós, mas a vossa existência humana é apenas uma manifestação individual dessa essência universal.

Assim como uma onda do mar poderia dizer: eu e o mar somos um, eu estou no mar, e o mar está em mim, mas o mar é maior do que eu; assim como qualquer luz colorida poderia dizer: eu e a Luz Incolor somos um, a Luz está em mim, e eu estou na Luz, mas a Luz Incolor é maior do que eu — assim pode todo ser finito dizer: eu, o finito, estou no Infinito, e o Infinito está em mim, mas o Infinito é maior do que eu.

As teologias cristãs, através dos séculos, não permaneceram fiéis a esse monismo cósmico do Nazareno; recaíram no monoteísmo dualista da sinagoga de Israel, considerando Deus como separado do mundo e do homem.
De vez em quando, aparece no seio da cristandade um verdadeiro místico que, como Jesus, professa a concepção monista de Deus — e logo é tachado de panteísta pelos monoteístas dualistas das igrejas cristãs, como aconteceu, ainda há pouco, a Teilhard de Chardin, que se aproximava notavelmente do monismo do Evangelho.

Filósofos modernos crearam a palavra "panenteísmo", em vez de monismo, que quer dizer "tudo em Deus", mas não "tudo é Deus", como quer o panteísmo.

Depois do Concílio Vaticano II, há cristãos eclesiásticos que têm a coragem de falar num "Deus no mundo" e num "mundo em Deus"; falam também do "Cristo interno", aproximando-se da concepção de Deus segundo o Cristo do Evangelho.

O monismo, ou panenteísmo do Nazareno, representa uma atitude única e inédita, não contagiada nem pelo judaísmo, nem pelo paganismo ocidentais, nem tampouco pelo panteísmo oriental. Também neste particular, o Cristo do Evangelho lembra um verdadeiro "bloco errático", sem nenhuma afinidade com o ambiente circun jacente.

Huberto Rohden
Agradecimento a Estevão Pereira - mentor - Ifevale

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